Proteção Civil

A influência do vento nos incêndios florestais

23 Blog Incurso Jorge Eiras

A influência do vento nos incêndios florestais

Os incêndios florestais têm-se revelado um flagelo para as sociedades do mundo rural e do interface urbano com avultadas perdas socioeconómicas e ambientais.

O incêndio florestal

Nos incêndios florestais, a topografia, o coberto vegetal e a meteorologia são os três elementos fundamentais para a caraterização da evolução do incêndio florestal. O aumento da área ardida e severidade dos incêndios florestais contribuiu para o aumento significativo do estudo deste flagelo que continua a devastar as sociedades afetadas, atingindo um pico significativo no ano de 2017 (ICNF, 2017). 

– A topografia permanece praticamente estática e não é possível uma atuação que permita que esta seja alterada, tornando assim o seu estudo, redundante e intemporal.
– O coberto vegetal varia com a altitude, exposição das vertentes e precipitação e características do solo, regiões que com valores de precipitação mais elevados apresentam maior carga de combustível. As vertentes voltadas a norte e oeste, apresentam mais vegetação devido à menor exposição solar e influência das brisas, as de oeste são mais húmidas, é nas zonas sombreadas e nos vales mais fechados que a humidade do solo é superior nas estações mais quentes.
– A meteorologia, continua a deter o conjunto de variáveis de mais difícil previsão, onde a longo e médio prazo não existem modelos preditivos capazes de apresentarem resultados com a fiabilidade que todos desejariam. A influência da escala e imprecisões dos input’s, podem gerar erros que inviabilizam os modelos, por outo lado, escalas com demasiado pormenor, tornam o processamento da informação difícil, contribuindo para uma maior incerteza dos modelos de previsão.

Entre os valores meteorológicos, a precipitação, a temperatura, a humidade relativa do ar, o vento e a estabilidade atmosférica são os que têm uma influência mais direta no comportamento dos incêndios. Na atualidade, os estudos relativos ao comportamento de massas de ar junto à superfície incidem nas cotas dos dez metros e oitenta metros. Coincidentemente, aumentaram gradualmente nos últimos quarenta anos com a emergente utilização da energia eólica. Contudo, este desenvolvimento desvia a sua aplicabilidade aos incêndios, urgindo mais desenvolvimentos neste tema, principalmente o conhecimento da sua interação com a superfície e influência desta no seu comportamento. 

Na propagação dos incêndios, são por vezes desvalorizadas algumas especificidades relativas aos ventos sinóticos nomeadamente, a quantidade de humidade que trazem em função da sua proveniência. Os ventos provenientes do norte de África não são muito frequentes, mas podem ocorrer em qualquer estação do ano, desmitificando muitas vezes o conceito de sazonalidade do fenómeno dos incêndios florestais.

O Estudo do Vento

O estudo do vento associado aos incêndios florestais tem surgido devido ao ajuste dos modelos preditivos existentes, contudo, o atrito gerado à superfície e a orografia, multiplicam as variáveis, havendo a necessidade de modelação com rigor espacial que podem comprometer a capacidade de processamento e a sua viabilidade.
Estudos mais recentes, apresentam o tipo de povoamento florestal como uma condicionante à modelação. Nas correções constantes aplicadas ao sub-bosque, é considerado o tipo de povoamento, estando provado que existem variáveis complexas que as condicionam, o rigor das cartas de utilização do solo, a variabilidade da quantidade de combustível e a sua distribuição, corroboram para as imprecisões que podem ser geradas por este input. Contudo, torna-se pertinente estudar as especificidades dos locais de maior risco, onde a leitura das condições do lugar se impõe à partida empiricamente mal explicadas pelas variáveis conhecidas.
Atualmente, há referências às alterações climáticas e à acumulação de combustível como causa dos mega incêndios, contudo, as bases físicas que fundamentam esta teorias ainda não foram testadas. Um recente estudo realizado na bacia mediterrânica, concretamente na Catalunha, onde se concluí que os incêndios causados pelo vento eram influenciados por fatores topográficos e climáticos. Estas conclusões tornam pertinente este estudo onde o elemento orografia pode ser importante.

Em Portugal

Os incêndios florestais em Portugal representam o fenómeno danoso que se manifesta com maior frequência e que têm provocado maiores impactos negativos, no ambiente, na socioeconomia e fundamentalmente, na perda de vidas humanas, no número de feridos e de deslocados. Perante esta conjuntura, urgem trabalhos das mais diversas origens da ciência que possam contribuir para que no futuro seja possível reduzir a sua recorrência e o seu impacte.

Leia o estudo completo aqui.

Fonte: Pereira, Adelino Jorge Eiras (2018). Estudo da influência do relevo na orientação dos ventos à superfície em contexto de incêndio florestal. [Dissertação de mestrado, Universidade do Porto]. Repositório Aberto da Universidade do Porto. https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/117660

Autor

Especialista em Proteção Civil, Planeamento de Emergência e Ordenamento do Território.

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